Aprendi que, após muito tempo, toda esta
tentativa de guardar mágoa e rancor tem sido fútil. Temos tão pouco tempo na
Terra, e se empenharmos o nosso espírito – ou ser – com estes venenos, só temos
a perder.
Hoje a minh’alma tenta se vestir de perdão.
Ela ensaia expurgar a soberba e o mal alento. Não vale a pena darmos alimento a
sensações que ensejam roubar nossa sanidade, nossa integridade – ao menos as
que cultivamos sóbrios.
Decidi me limpar deste ódio profundo. Diríamos que me reabilito
de algo que engolia com afinco: algo que eu julgava ser meu principal escudo. E
foi sim, por um vasto tempo, um bonito e negro escudo. No mais, como pedaço de
frágil metal, ele foi enferrujando, sendo corroído. Como necrose, começara a
invadir os meus tecidos.
Hoje apareceu-me um demônio – um divino
demônio. Ele não me tentou a fazer coisas ruins. Ele, a consciência, me fez
mesclar o meu âmago com uma fonte de calmaria, de decisão. Meu peito subiu como
aeronave. Tentou aterrissar: foi um pouco fracassado.
Não
apareceu, ao final do expurgo, o yin e yang. Apareceu paciência. Complacência.
Um sopro de mudança, música, um aguardo. Aguardo sem retorno. Perdoo e aguardo.
Meu corpo soltou o peso, está quase uma pena de águia.
Níkku
29/05/2014
29/05/2014
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