8 de jan. de 2015

Encéfalo

O relógio fez questão
De escalpelar minhas coronárias

Meu sangue, cada vez mais claro
Menos oxigênio

O vento, que antes acalentava,
Faz escorrer gota mais ácida de minha espinha

O suor, mais salgado
A cabeça fustigada num muro

Massa cinzenta que escorre
Brilha com sangue claro
No muro de asfalto

Níkku

6 de jan. de 2015

Ophidia

A palavra mais cobra
(E eu digo cobra pegando o senso comum de ruindade, pois adoro o bicho. Possui uma sedução, um perigo, um tudo!)
Mas a palavra mais cobra
Que silva tanto em sua grafia
É desassossego.
É tanta curva, tanto ‘s’,
Tanto rodopio de emoção!
Os sentimentos sibilam depois que nosso olho entra em contato com os tantos ‘s’ sem sossego;
É quase como se a alma entrasse num andamento em presto.
A tinta rasga os meus olhos ao ver tanto ‘s’ ausente de sossego
E é isso o que, ao final de contas, a tinta faz
Tinge nossos (ou o meu) corações de preto.

Porque sim, eu escolho o preto.

Níkku