7 de out. de 2009

Esquecimento


O espaço era sombrio. Nada se via além do nada. As formas dançavam nojentamente
em movimentos lentos e precisos, contorcendo-se em forma espirálica de um flanco a outro.
Não havia instrumental passando pelo ambiente, somente vocalizes retalhados pelo silêncio.
Era incomum o fato de que a luz parecia influenciar no ritmo dos secos vocais. Estavam a
rugir intensamente, a cada luz que penetrava pelas fissuras da superfície interna do escuro
condensado. Seus sapatos brancos não refletiam. As pequenas baquetas que cada um segurava
cortavam o ar que sangrava fagulhas verdes. As luzes eram tão defeituosas que mau
encandesciam o minúsculo volume onde eram produzidas. Com o acúmulo das outras luzes dos
vários vultos rodopiantes, a escuridão parecia acompanhar a dança das formas negras,
expandindo e contraindo.
Em suas cabeças, apresentavam uma forte coroa de espinhos. A dor as fazia movimentar mais rapidamente, e a cada fagulha soltada, os seres de borracha negra iam se desintegrando. Eram esguios, elásticos e horrendos. Não importava a beleza, não poderiam apreciá-la mesmo... Desenhando com suas baquetas redemoinhos pelo chão, estes logo ganhavam cor e vida, assim rodopiando junto com as borrachas bailantes, e se desfazendo em pleno ar a cada giro.
Repentinamente, um som forasteiro adveio da pequena porta lenhosa e putrefada. As sombras ignoraram tal ruido, e continuaram o torturoso baile. Novamente, outro aviso foi dado, e a ignorância aumentava. Por fim, o último aviso veio com o rompimento brusco do portal. Uma luz vermelha e inconsciente atravessou o ambiente dissonando todos os vocais. Invadia com voracidade, ferindo, golpeando, dilacerando, cortando as figuras que, neste momento, sentiam que a única coisa que deveriam fazer era continuar com a eterna dança. À medida que seus membros iam sendo mutilados, um líquido preto jorrava e enchia o ar que aos poucos saturava.
Um barulho cortante começou a reverberar. Era seco, ensurdecedor, agoniante, agudo, e tremia... como mil agulhas perfurando os ouvidos. Algumas formas soltavam últimos sons, como os de uma flecha perfurando um casco de árvore. Assim que a luz vermelha misturou-se completamente com as fagulhas verdes quase extinguidas, pequenas explosões eram formadas de luzes lilás. Por fim, a cena ritualística fora destruida, e somente uma desfigurada de água negra, cinzas, fumaça e objetos destroçados era certificada no local. Se outro ser tivesse alcançado aquele espaço, nunca decifraria o verdadeiro sentido de todos os acontecimentos. Somente o jogo de luzes e som era capaz de interpretar a morbidade, agora duradoura, daquele local "vazio".










... [In]significância ...



Nikku

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