27 de set. de 2009

Princesa


Era uma noite de neve. Seus cabelos estavam gelados, coitada. O frio nunca a confortara em nenhum dos momentos de sua breve vida. O cômodo era esparso da branca neve que infiltrava-se lentamente pela brecha da janela. Ações agressivas eram detectadas com um vislumbre do espaço. Uma goteira de água que ia se congelando aos poucos era constatada debruçando-se do teto.
No canteiro do quarto, havia uma pequena boneca, a brincar com seu jogo de chá favorito, “Outro cubo de açúcar, sim?”. Seus olhos esbugalhados incandesciam a atmosfera fria e suja. Uma melodia sonolenta lambia as paredes do lugar. A boneca parecia não se importar com o ser de gélidos cabelos que um pouco ao centro do espaço descansava. De vez em quando, ela soltava risos de criança. Parecia estar se divertindo muito, tomando chá, e brincando com as presenças ausentes do local. “Isso é verdade? Ela está realmente... ?” Um silêncio pesado se fez. A boneca manteu seu corpo imóvel, enquanto girava vagarosamente sua cabeça cento e oitenta graus, em direção ao corpo, “Ouvi dizer que seu espírito não se encontra mais aqui.”
Com uma longa pausa, só o cintilar dos flocos de neve quebravam a imobilidade do ambiente. “Pois bem, deve ser verdade. Pequena lástima esta. Esperava poder brincar contigo também.”
Estudando melhor o corpo, a boneca chegou a conclusões exatas, “Só podia. Você é uma humana. Vocês só fazem apodrecer, e apodrecer. Quando vivos, apodrecem tudo ao seu redor. Quando mortos, apodrecem a si mesmos. Se eu fosse dotada de algum sentimento, diria que este teria como nome ‘repulsa’.”
A figura de cabelos gélidos, debaixo dos mesmos, apresentava uma expressão de horror. Seus lábios roxos e pele cadavérica mesclavam em um jogo perfeito de beleza e decomposição. A música incessante e sonolenta rodopiava lentamente pelo ar. Um grito advindo da boneca apareceu, “Patético!”.
E assim continuou seu jogo de risos vazios e contemplações precisas.

Nikku

4 comentários:

  1. O frio, sempre lembra o terror.
    Você me lembrou Augusto dos anjos, com o cadavérico.


    www.arthurmelo92.blogspot.com

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  2. Me pareceu sombrio, sabe? Mas eu gostei. Muito!=D
    Parabéns pelo texto!
    Se cuida!=)

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  3. Eu sei bem rir-me vazia.

    (Você lembra mesmo, mesmo o Dos Anjos - Eu amo!)

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